Desconstrução
O ano de 2018 foi um ano que vivi um momento de muita reflexão, sobre meu trabalho e sobre o momento político que o Brasil esta vivendo.
Percebi duas coisas que tinha passado anos sem notar, uma é que infelizmente nossa sociedade e extremamente moralista, racista e preconceituosa, além de ter a miníma empatia com o sofrimento dos outros. É muito triste ver que esse comportamento se reflete em todas as camadas sociais de nossa nação, desde socialite até trabalhadores de lugares periféricos. Sim, sabia da existência de todo esse carma, porém não tinha ideia da proporção. Apesar de ser negro e morar em um bairro pobre, e ter tido todos os problemas estruturais familiares que diversas pessoas como eu têm, nunca foi dito nada aqui em casa sobre racismo e preconceito e coisas do tipo. Em geral, minha mãe que criou 3 filhos sozinha, estava mais preocupada em levar comida para casa e assistir tranquilamente sua novela das 8h.
A segunda coisa, percebi que eu era negro, vivendo um momento inédito na história do Brasil, a hegemonia de um presidente racista e preconceituoso. A partir dai percebi que a maioria de nós, pobres e negros estavamos vendados pelo sistema, que nós engana e manipula de uma forma brutal. Faz tudo de modo tão perfeito, que agente não se reconhece e não se encontra com as nossas origens e até mesmo as rejeitem e as menosprezem. Vi que estava fazendo exatamente isso com o meus trabalhos artísticos, que não tinham nada sobre minha identidade, somente a parte estética e linguagem visual que eu gostava de reproduzir.
Tenho uma dívida com meus antepassados com minha negritude e tenho essa necessidade de desconstruir o meu trabalho, e pretendo a partir desse momento, transmitir mais sobre mim e sobre nós em minhas pinturas, como forma de aversão a essa sociedade, que no momento infelizmente esta completamente doente. É nessa hora que a arte tem que surgir, como forma de cura e de quebra de padrões.
Black god under the sun
Acrílica com colagem aplicada.
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